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Trabalhar com a obra de Gregório de Matos nos faz esbarrar a todo momento com a problemática da autoria e a tradição literária. De fato, não houve registros manuscritos sobreviventes de seus poemas e o que temos são códices reunidos sob seu nome numa duvidosa seleção. A tradição literária tentou separar o que seria de fato de autoria do poeta e o que seria de seus contemporâneos, associados à sua obra por diversos motivos. O que críticos como João Adolfo Hansen apontam é que, sendo o material vasto em quantidade e em diversidade temática e formal, é uma tarefa que está fadada ao fracasso tentar separar o que seria de autoria de Gregório de Matos, já que não existe um texto parâmetro e o critério de qualidade é por demais subjetivo.
O que se sabe da pessoa histórica de Gregório de Matos já corrobora para que a obra de sua suposta autoria fosse diversificada. Feitos seus estudos em Coimbra, onde o poeta tomou conhecimento da poesia europeia do período, ao voltar para o Brasil viajou pelo recôncavo baiano e assimilou em seus poemas a oralidade, os temas e as formas populares dos jograis. Como se vê nos códices que reúnem seus poemas, há de sonetos à glosas, da poesia lírica à pornográfica, temas religiosos e maledicência a todos os estratos sociais, inclusive o clero. Além disso, era comum o poeta do período utilizar versos ou até mesmo estrofes de outro poeta, indicando filiação e seu bom gosto. Não há o conceito de plágio. E ainda deve se lembrar que essa poesia é oral e, portanto, “(...) eram, muitas vezes, transcritos em folhas avulsas; outras, memorizados, sendo copiados em novas folhas ou reproduzidos na oralidade, produzindo-se variantes transcritas, por sua vez, em outras folhas avulsas ou novamente reproduzidas por novos agentes na oralidade.” (HANSEN p. 40)
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